Falta de regulamentação específica ainda gera incertezas sobre o manuseio, armazenamento e documentação para a movimentação desses produtos
A primeira reunião de 2025 do Comitê de Logística Farmacêutica aconteceu nesta quinta-feira (13), trazendo como destaque a palestra “Logística Aérea de Medicamentos – Desafios do Transporte”, apresentada por Alice Lucena, Farmacêutica Responsável Técnica da Unicargo, empresa associada da Abralog.
Alice Lucena destacou a importância do transporte aéreo para a área da saúde, enfatizando a agilidade na entrega de medicamentos e insumos críticos. Segundo a especialista, esse modal é essencial para garantir a disponibilidade rápida de produtos utilizados em procedimentos cirúrgicos e tratamentos urgentes, especialmente quando se trata de materiais com curta estabilidade.
Um dos principais desafios mencionados foi a necessidade de assegurar a integridade dos medicamentos durante todo o processo logístico. A falta de regulamentação específica para o transporte aéreo, apesar da existência da Portaria 430 de 2020, ainda gera incertezas sobre o correto manuseio, armazenamento e documentação necessária para a movimentação desses produtos.
A especialista apontou que barreiras fiscais e documentais são frequentes na operação aérea, dificultando a liberação de cargas, principalmente para regiões como o Nordeste do Brasil. Problemas como a retenção de produtos em alfândegas e a exigência de documentação detalhada podem impactar significativamente os prazos de entrega.
Alice Lucena também ressaltou o impacto das condições de armazenamento no porão das aeronaves. Dependendo da presença ou não de animais a bordo, a temperatura pode variar significativamente, chegando a valores negativos e comprometendo a estabilidade dos produtos. Essa variabilidade reforça a necessidade de monitoramento contínuo da temperatura e adequação dos processos logísticos.
Outros especialistas da Unicargo no debate
Também participaram da apresentação o CEO da Unicargo, Wanderley Soares, e a Head de Marketing da empresa, Flávia Batalha, que trouxeram suas perspectivas sobre os desafios e soluções no transporte aéreo de medicamentos.
Wanderley Soares destacou a importância da gestão de riscos no transporte aéreo de medicamentos: “O gerenciamento de riscos é nossa segunda maior preocupação. Transportamos medicamentos de alto valor e adotamos um sistema de monitoramento de falhas que já funciona há sete anos. Reunimos periodicamente as gerenciadoras de risco e seguradoras para mitigar problemas, o que reduziu drasticamente nosso índice de sinistro. Hoje, ele é quase zero, com exceção das avarias. Em qualquer ponto do país, seguimos rigorosamente as normas”.
Flávia Batalha apontou que a escolha do tipo de serviço é um grande desafio para a logística aérea: “Muitos clientes optam pelo serviço convencional em vez do expresso por questões de custo-benefício. No entanto, a duração do gelo refrigerante nem sempre acompanha o tempo do transporte, o que pode comprometer a carga. Além disso, cortes de carga nas companhias aéreas são frequentes, exigindo ajustes logísticos constantes”.
Ela também destacou a necessidade de conscientização do mercado: “Grandes players entendem a regulamentação, mas recebemos muitos clientes de pequeno e médio porte que não sabem o básico sobre armazenamento e transporte adequado de medicamentos. Por isso, às vezes precisamos recusar serviços para garantir a segurança da carga. A conscientização é essencial, pois estamos lidando com produtos que impactam diretamente a saúde das pessoas”.
A rastreabilidade também foi um tema abordado, sendo um fator crítico para a segurança da carga. O uso de sistemas de monitoramento permite o acompanhamento em tempo real, garantindo mais controle sobre possíveis não conformidades. Parcerias com companhias aéreas têm sido fundamentais para aprimorar esses processos e reduzir riscos na cadeia de suprimentos farmacêuticos.