Dengue 2025: Integração de Dados Epidemiológicos e Climáticos para enfrentar o desafio no Brasil

Políticas de saúde pública precisam integrar os dados epidemiológicos com as condições climáticas locais para mitigar os e reduzir a incidência da doença

A seguir, apresenta-se uma revisão integrada sobre os casos de dengue e o cenário brasileiro para 2025, cruzando os dados epidemiológicos recentes com a influência dos fatores climáticos, em especial a atuação da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS).

1. Cenário epidemiológico atual

Casos e distribuição geográfica

Informe do Painel de Monitoramento de Arboviroses do MS – até janeiro de 2025.

Agência Brasil (Publicação de 03/02/2025) e Atualização do Ministério da Saúde (30/01/2025):

  • No primeiro mês de 2025, o Brasil registrou cerca de 170 mil casos prováveis de dengue e 38 mortes confirmadas, com 201 óbitos em investigação.
  • O coeficiente de incidência ficou em 80,1 casos para cada 100 mil habitantes.
  • A distribuição dos casos mostrou predomínio entre mulheres (54%) e entre pessoas de 20 a 49 anos, com variação étnica (51,3% brancos, 32,4% pardos, 4,4% negros e 1,1% amarelos).
  • Estados e regiões: São Paulo destaca-se com o maior número absoluto de casos (cerca de 100 mil), e um elevado número de óbitos em investigação (135), reforçando a tendência de aumento na região Sudeste, seguido por Minas Gerais, Paraná e Goiás. Estados como Tocantins, Pernambuco e Mato Grosso também apresentam destaque, enquanto o Rio de Janeiro experimenta uma queda significativa nos primeiros dados do ano. Enquanto as regiões Norte e Nordeste mantêm números estáveis ou com leve redução, há uma redução substancial no Centro-Oeste e Sul – exceto para o estado de São Paulo, que mostra um aumento expressivo.

Impacto do Sorotipo 3

  • Um dos principais fatores associados ao aumento de casos, especialmente no Sudeste e em São Paulo, é a circulação crescente do sorotipo 3 da dengue.
  • Desde julho de 2024, o aumento na detecção desse sorotipo vem contribuindo para a elevação do número de infecções, em um cenário em que boa parte da população ainda não teve contato com essa variante, aumentando a suscetibilidade.

2. Análise dos Modelos Preditivos e Perspectivas para 2025

Lições de 2024 e Desafios para o futuro

  • Cenário 2024: O ano anterior foi marcado por uma elevada incidência de dengue no Brasil, com mais de 6,5 milhões de casos e aproximadamente 5.700 mortes confirmadas, inclusive em regiões e altitudes historicamente menos afetadas.
  • Exames Rápidos relativos a Dengue em Farmácia em 2024: no ano de 2024 foram realizados mais de 597 mil exames rápidos, sendo que desses foram 138 mil exames com resultados positivos ou reagentes, em cerca de mais de 5 mil farmácias brasileiras. Mais uma vez, a farmácia colaborou no enfrentamento de um desafio sanitário nacional, como feito em época na pandemia da COVID 19.
  • Previsões para 2025: Especialistas reunidos por instituições como Fiocruz, FGV e o Ministério da Saúde, por meio de webinários e iniciativas colaborativas, indicam que, embora os modelos não apontem para um surto na mesma magnitude de 2024, existem incertezas importantes. Alguns alertas sugerem que determinadas regiões, especialmente o Sul, podem vir a enfrentar surtos significativos. A variabilidade climática e fatores ambientais continuam a ser determinantes na dinâmica da doença, demandando análises constantes e a incorporação de variáveis como dados climatológicos e indicadores socioeconômicos.

3. Fatores que influenciam o cenário e desafios para o controle:

Influência da ZCAS e da incidência de chuvas

A Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) é um sistema meteorológico típico do verão, caracterizado por chuvas intensas e volumosas em curtos períodos. Suas principais características e mecanismos de formação são:

  • Origem e Extensão: Formada por uma faixa de nuvens que se estende do sul da Amazônia até o Oceano Atlântico, a ZCAS abrange grande parte das áreas do Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste do Brasil.
  • Mecanismos de Formação:
  • Impactos: Devido à sua capacidade de provocar grandes volumes de chuva em curtos períodos, a ZCAS pode causar inundações e deslizamentos de terra. O Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) realiza a atualização diária das previsões de tempo, monitorando atentamente a atuação deste sistema.

Relação com a transmissão da Dengue

  • Ciclo Chuvoso e Proliferação do Vetor: A intensificação das chuvas decorrentes da atuação da ZCAS favorece o acúmulo de água parada em áreas urbanas e periurbanas, criando condições ideais para a proliferação do Aedes aegypti, o principal vetor da dengue.
  • Impacto nos Dados Epidemiológicos: Em 2025, as regiões afetadas por altos volumes de chuva associadas à ZCAS podem experimentar um agravamento do cenário epidemiológico da dengue. A relação entre chuvas intensas e o aumento dos casos é um fator relevante, principalmente em áreas urbanas com infraestrutura deficiente.

Outros fatores ambientais e epidemiológicos

  • Sorotipo 3: A intensificação da circulação do sorotipo 3, sobretudo na região Sudeste, altera a imunidade coletiva e intensifica a transmissão, contribuindo para o aumento dos casos.
  • Clima e Meio Ambiente: As variações climáticas, associadas às mudanças ambientais, impactam diretamente a proliferação do mosquito vetor, ampliando os riscos de transmissão em áreas historicamente menos afetadas.
  • Outras Arboviroses: O avanço de outras doenças, como a febre do Oropouche (com quase 3 mil casos já registrados, principalmente no Espírito Santo) e a possível subnotificação de arboviroses como a Mayaro, complica o quadro epidemiológico e requer atenção integrada no monitoramento e diagnóstico.

Ações recomendadas

  • Ampliação da Vigilância: Investir em sistemas integrados de vigilância que combinem dados epidemiológicos com informações climáticas para uma melhor calibração dos modelos preditivos.
  • Fortalecimento do Diagnóstico: Aumentar a cobertura de testes laboratoriais para diferenciar dengue de outras arboviroses, evitando a subnotificação e possibilitando respostas mais direcionadas.
  • Integração de Dados: Incentivar a colaboração entre instituições, como Fiocruz, FGV e Ministério da Saúde, utilizando as informações fornecidas pelo INMET para monitorar a atuação da ZCAS e orientar intervenções regionais específicas.

4. Conclusão

A análise comparativa dos dados epidemiológicos dos anos 2023 e 2024, juntamente com os números iniciais de 2025, revela um cenário heterogêneo no Brasil. Enquanto algumas regiões, como Minas Gerais, apresentam uma tendência de redução, outras, especialmente no Sudeste – com destaque para São Paulo – registram um aumento expressivo, impulsionado, em parte, pela intensificação da circulação do sorotipo 3.

Paralelamente, a atuação da ZCAS, com sua capacidade de gerar chuvas intensas e volumosas em curtos períodos, agrava a situação ao criar condições ambientais propícias para a proliferação do mosquito transmissor. Essa confluência de fatores (variabilidade climática, chuvas intensas e vulnerabilidade de áreas urbanas) destaca a necessidade de estratégias regionais diferenciadas e medidas preventivas específicas.

Diante deste cenário, é imperativo que as políticas de saúde pública integrem os dados epidemiológicos com as condições climáticas locais, utilizando as informações do INMET e de outras fontes, para orientar intervenções e mitigar os impactos da dengue. Essa abordagem integrada permitirá respostas mais eficazes, visando reduzir a incidência da doença e proteger as populações mais vulneráveis.

5. Referências

  • Painel de Monitoramento das Arboviroses.
  • Boletim epidemiológico do INI/Fiocruz.
  • Dados das plataformas Clinicarx e Abrafarma.

Fonte: https://www.linkedin.com/pulse/dengue-2025-integra%C3%A7%C3%A3o-de-dados-epidemiol%C3%B3gicos-e-o-jauri-francisco-5lnff/

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