Taxa de descontinuação dos negócios no pequeno e médio varejo soma 94%
O fechamento de farmácias no país segue em ritmo incessante e acelera a mortalidade de pequenas e médias empresas. O levantamento mais recente da Close-Up International indica que 10,9% das lojas abertas nos últimos dois anos até outubro de 2024 já encerraram as atividades – totalizando 11.839 PDVs.
O recuo é encabeçado pelas farmácias independentes e redes de menor porte, que descontinuaram a operação de 11.198 unidades. O volume representa impressionantes 94% do índice de fechamentos. Em contrapartida, as grandes varejistas e os grupos do associativismo detêm somente 6%.
O diagnóstico nas independentes revela-se ainda mais grave por outro motivo. Além de ser o segmento que mais padece com a interrupção do negócio, também concentra o maior número de abertura de lojas.
Das 72.034 farmácias do gênero, 14.800 foram abertas nos três anos iniciais e 10.444 fechadas – cerca de 14%. No caso das pequenas e médias, os fechamentos no período (752) superaram inclusive o montante de PDVs inaugurados (655).
Fechamento de farmácias no Brasil por segmento (em %)
Fonte: Close-Up International Fechamento de farmácias atrelado a desconhecimento do mercado
Um conjunto de fatores culminou com esse quadro crônico de fechamento de farmácias. “Sob pressão inflacionária e dos juros, muitas empresas do setor demoram a aplicar o reajuste de medicamentos na tentativa de reter consumidores, o que ajuda a afetar a sustentabilidade financeira”, adverte o consultor Fernando Foster, gerente de produtos da Rock Encantech,
Ainda segundo o especialista, esse contexto força uma guerra de preços em que claramente as grandes companhias levam vantagem, com mais caixa e maior capacidade de negociar com fornecedores. “O pequeno está sendo esmagado por redes que conseguem fazer uma operação mais bem-sucedida, com redução de custos”, explica.
Falta de adaptação às mudanças de cenário
Ele frisa a dificuldade das farmácias independentes de se adequarem ao atual momento em relação a diversas variáveis. A escolha do melhor ponto para abrir o negócio é um dos requisitos. “Se o lojista não está posicionado em um lugar com grande fluxo de público, não terá potencial para captar mais vendas”, crava.
Outro aspecto diz respeito à experiência do lojista. “Na maioria das vezes é um ex-vendedor ou farmacêutico que decide abrir uma loja por conta própria. Aí começam a aparecer os gargalos face ao seu despreparo para conduzir o processo de compras, elaborar estratégias de marketing, usar ferramentas tecnológicas e outras ações inerentes ao negócio”, assinala.
Uma das saídas, segundo ele, passa pela conversão de bandeira. “Trata-se de um modelo de negócio com padrões a seguir, mas que também dispõe de ferramentas que permitem ao proprietário obter, em conjunto, melhores preços da indústria e benefícios como ajuda para precificar produtos, o que encurta o tempo de maturidade da loja. Por isso o associativismo ainda cresce mais do que as grandes redes”, observa.
Foco em municípios menores pode atenuar fechamento de farmácias
Foster acredita que o caminho para conter o ritmo de fechamento de farmácias passa pelo maior foco das independentes em cidades menores, com cerca de 10 mil habitantes. “Há lugares em que não existem médicos, postos de saúde, supermercados, mas o varejo farmacêutico preenche essa lacuna’’, opina.
Porém, os indicadores da Close-Up International mostram como esse nicho está distante dessa lição de casa. Das lojas abertas pelo varejo independente nos últimos 12 meses até outubro do ano passado, 20% estão sediadas em municípios acima de 1 milhão de habitantes.
Em contrapartida, cidades com até 50 mil pessoas foram os destinos de 24% das inaugurações de PDVs das grandes redes, 48% das aberturas promovidas pela Febrafar e 53% dos demais representantes do associativismo. “Com a consolidação nos centros de maior porte, o Brasil continuará a observar as independentes perdendo seu espaço e as grandes aproveitando essa oportunidade”, argumenta Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.
Alta de preços e redução de descontos da indústria a caminho
Para Foster, o que se vislumbra é uma ‘’chacoalhada’’ no varejo farmacêutico em 2025, especialmente porque a indústria vem cortando os descontos em 10% e a diferença será descontada da margem de lucro na ponta. “A falta de planejamento, capacidade operacional, financeira e estrutura tecnológica pesa mais sobre os pequenos, que não conseguem se preparar a tempo”, reforça.
Mesmo entre as grandes redes a competição não cessa. Com alto faturamento e “bala na agulha” para investir, inclusive com recursos do mercado de ações, a disputa se dá a uma velocidade espantosa. Um ponto disponível em uma região onde circula muito dinheiro é rapidamente ocupado ao menor sinal de que há um concorrente interessado. “É um modelo em que é preciso abrir lojas continuamente para se manter relevante, principalmente aos olhos de acionistas”, finaliza Foster.
Fonte: https://panoramafarmaceutico.com.br/estudo-aponta-ritmo-acelerado-de-fechamento-de-farmacias/