Para onde caminha o mercado farmacêutico

Dados da Close-Up indicam que grandes redes se destacam no mercado farmacêutico (Foto: Viviane Massi)

Mercado de emagrecimento, avanço do associativismo e vendas no canal digital são destaques nas análises da Close-Up International durante o Outlook 2025

Quem define os rumos do mercado é o consumidor. E basta seguir as pistas, olhar para o lado e ouvir o que se anda dizendo por aí. Para ilustrar, quero contar uma rápida história. Durante uma aula recente de pilates, um amigo me disse: “Perdi 7 kg em duas semanas. Cortei todo o carboidrato. Estou comendo apenas proteína e salada.” Ele continuou relatando seus novos hábitos para emagrecer. Foi quando trouxe a informação que sinaliza uma forte tendência: “Mas também estou tomando Mounjaro!”

É para esse mercado que o segmento farmacêutico caminha a passos largos, e acelerados. A história desse amigo é a personificação do cenário apresentado pela Close-Up International durante o Outlook 2025, realizado em São Paulo, em outubro: o consumo de medicamentos para tratar a obesidade está crescendo, e muito rápido. Quem não se preparar para essa demanda vai perder oportunidade de incrementar o faturamento.

Entre agosto de 2024 e agosto de 2025, o crescimento da categoria Obesidade/Diabetes – classificação Close-Up – foi de 41,6%, com faturamento R$ 13,2 bilhões e 160 milhões em unidades vendidas. Apenas a semaglutida movimentou R$ 7,1 bilhões no período. Entre os produtos mais vendidos estão Wegovy (semaglutida), Forxiga (dapagliflozina), Ozempic (semaglutida) e Mounjaro (tirzepatida).

No mercado da América Latina, as duas moléculas mais vendidas em farmácias são a semaglutida e a dapagliflozina, com $ 1,7 bilhão e $ 7 milhões em vendas, respectivamente, e crescimento de 62,5% e 77,2% no MAT 08/25.

No Brasil, o potencial desse mercado encontra justificativa nos dados de saúde. Em 2008, 6,5% da população brasileira tinha diabetes. Em 2023, esse percentual já era de 10,2%, ou seja, 21 milhões de pessoas.

Já em relação à obesidade e sobrepeso, em 2019, quando a população brasileira era de 210 milhões de habitantes, a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) do IBGE apurou que a prevalência de obesidade em pessoas com 20 anos ou mais era de 26,8%, ou seja, atingia 56 milhões de pessoas. E o excesso de peso acometia 60% dos adultos, ou seja, 126 milhões de brasileiros.

Projeções do Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) indicam que, se mantidas as tendências, quase metade dos adultos brasileiros poderá ter obesidade até 2044, o que justifica o crescimento do mercado de emagrecimento.

Apesar de ter crescido menos do que a diabetes entre a população – 17,7% de 2008 para 2023 –, a hipertensão é uma doença cuja demanda por medicamentos se mantém em alta, aquecendo o mercado. No MAT 08/2025, foram R$ 914 milhões em faturamento e 147 milhões de unidades vendidas nas farmácias. Losartana continua sendo o produto mais vendido.

Juntos e misturados: associativismo também segue em alta

Nem todas as farmácias prosperam no mesmo ritmo. Segundo estudos da Close-Up, o associativismo vem crescendo de maneira significativa, com a Febrafar puxando esse crescimento nos últimos 5 anos: em 2021, representava 14% do mercado; em 2025, esse percentual é de 16%. A título de comparação, as demais federações passaram de 5% para 5,4%.

Como é de se esperar, o associativismo provoca retração no segmento de independentes, que caiu de 21,6% de participação para 18%. A migração dessas empresas para redes associativistas ocorre devido ao que oferecem: gestão baseada em dados, apoio técnico e acesso a informações de mercado.

Por outro lado, o independente que insiste em caminhar sozinho enfrenta dificuldades com baixo crescimento ou até mesmo encerramento de suas atividades por causa da falta de gestão profissional, precificação incorreta, regime tributário desfavorável e pouco uso de ferramentas de controle. Para crescer e prosperar, precisa profissionalizar a gestão como poucos conseguem. Existem farmácias independentes faturando acima de R$ 2 milhões por mês.

Digital cresce mais nas grandes redes

As vendas no canal digital subiram de R$ 4,7 bilhões, em novembro de 2023, para R$ 8,1 bilhões, até agosto de 2025. Entre agosto de 2024 e agosto de 2025, o crescimento foi de 43,9%, ou seja, altamente expressivo, porém predominante nas grandes redes da Abrafarma, que ficaram com R$ 5,8 bilhões do faturamento total.

Além dos dados de consumo, a Close-Up apresentou também dados que mostram o perfil digital do brasileiro. Estamos em 5º lugar no tempo gasto em redes sociais, somos o 3º em sessões iniciadas no WhatsApp e ocupamos o 1º lugar no ranking de tempo gasto na internet por pessoa. Por isso, estar fora do digital para as farmácias não é uma opção, mesmo que a fatia no bolo ainda seja pequena.  

Segundo a Close-Up, grande parte das vendas no digital estão concentradas em aplicativos próprios. Em segundo lugar, estão sites de venda (e-commerce próprio) e, em terceiro, vêm televendas e WhatsApp. Esse cenário demonstra que, de fato, o digital segue concentrado nas grandes redes, pois farmácias independentes, em geral, não possuem aplicativos próprios. Algumas conseguem estar em plataformas de marketplace, como iFood, e a maioria vende por telefone e WhatsApp.

A velocidade na entrega é um ponto chave para o sucesso no canal digital. Se a farmácia demora para entregar, ela perde mercado, tanto que as melhores performances estão nas 90% das entregas que são feitas em 60/120 minutos. E cerca de 55% das vendas digitais saem no formato “clique e retire”.

Performance do mercado total de farmácias

O mercado brasileiro movimentou R$ 233,4 bilhões no MAT 08/2025. E é o medicamento de prescrição que vem puxando esse crescimento, com faturamento de R$ 129,8 bilhões e destaque para a categoria de Obesidade/Diabetes, cujo faturamento no mesmo MAT foi de R$ 13,2 bilhões. Outra oportunidade são os pacientes multimedicados: 70% dos que possuem acima de 50 anos fazem uso de mais de três medicamentos e 15%, consomem de 8 a 15.

Do total de R$ 233,4 bilhões, as grandes redes detêm 47,9% do faturamento, os associativistas, 21,8%, os independentes, 18%, o digital, 7,8% e outros players, 4,5%.

Do ponto de vista de crescimento, o canal farmácia cresceu 12,1% entre agosto de 2024 e agosto de 2025. Interessante notar que o associativismo avançou mais do que o mercado total: 15%. O digital cresceu 32,4%, principalmente nas grandes redes, e os independentes cresceram apenas 5,8%, pois estão migrando para o associativismo.

Em unidades, o mercado cresceu 4,4%, atingindo 8,4 bilhões em unidades vendas em todo o canal. Em unidades, os independentes se destacam, vendendo 30,6% das unidades totais. Isso ocorre devido à capilaridade desse segmento. Entretanto, em relação a faturamento, ficam atrás de grandes redes e associativistas.

O mercado de MIPs cresceu 8,2% de agosto de 2024 para agosto de 2025, com destaque para as subcategorias Respiratório, e Suplementos e Bem-estar. No MAT 08/2025, os maiores crescimento foram dos MIPs para tratamento do sistema respiratório e produtos dermatológicos. Em faturamento, os três produtos com destaque no período foram Dorflex, Expec e Cimegripe. Já em unidades, os recordistas são Neosoro, Maxalgina e Cimegripe, itens que não podem faltar no sortimento da farmácia.

De acordo com análise da Close-Up, o mercado brasileiro de MIP vem perdendo ritmo com a migração de pacientes para terapias que utilizam medicamentos de prescrição, impulsionada por queda da cobertura vacinal, aumento da resistência microbiana e maior acesso a consultas médicas, tanto nas farmácias quanto por meio da maior presença de profissionais de saúde nas cidades brasileiras. Atualmente, no Brasil, são 27 médicos por habitante.

Os não medicamentos continuam crescendo, porém de forma pouco expressiva. De agosto de 2024 para agosto de 2025, esse crescimento foi de 6,9%, atingindo o valor de R$ 69,3 bilhões em vendas. As subcategorias com melhor performance no crescimento das vendas foram Alimentos e Bebidas (13,1%), Vitaminas e Suplementos (11,8%) e Dermocosméticos (7,8%).

A Close-Up também apresentou dados de uma pesquisa referente aos últimos 5 anos. A venda média mensal por farmácia saiu de R$ 169 mil para R$ 230 mil. O preço médio do mix está em torno de R$ 27,14, e o faturamento médio por SKU chegou a R$ 53. Em relação ao sortimento, a média de SKUs por loja saltou de 3.837 para 4.369 em 5 anos, subindo apenas 14%, apesar de ser um fator relevante para elevar faturamento.

Farmácia Popular tem bons números

De 2022 a 2025, o orçamento do Farmácia Popular subiu 18,9%, passando de R$ 2,5 bilhões para R$ 4,2 bilhões. O número de pessoas atendidas também saltou de 20,7 milhões, em 2022, para 24,7 milhões em 2025, crescimento de 19,3%.

Atualmente, são 31 mil farmácias no FP, 86% das cidades cobertas e 97% da população com cobertura disponível. Em relação ao perfil de lojas, 51,9% das farmácias que estão no programa tem perfil super popular e popular.

Bem-estar e saúde mental: estamos mais estressados e ansiosos

As farmácias estão se consolidando como ambientes que oferecem soluções de bem-estar e saúde mental. Dados da Close-Up mostram que 61,1% dos compradores de produtos da categoria Wellness são mulheres das classes B (45%) e C (51%).

O mercado de saúde mental e doenças neurológicas também está se destacando. Ambos faturaram R$ 13,4 bilhões e R$ 8,6 bilhões, respectivamente, no MAT 08/2025. Os medicamentos que mais cresceram em vendas foram os prescritos para TDAH e os antipsicóticos, seguidos de antidepressivos.

De 2014 para 2024, houve um aumento de 96,4% nos casos diagnosticados como Burnout. E os 20 produtos mais vendidos dentro da especialidade de neuropsiquiatria são para tratar depressão (60%), TDAH (15%), ansiedade (15%) e doenças neurológicas (10%).

Tendência de desertificação de farmácias nos EUA

No mercado dos Estados Unidos, a Close-Up abordou o tema “desertificação de farmácias”, fenômeno que vem afetando 45 milhões de americanos, cerca de 13,2% da população.

Tanto que, atualmente, em 46% das cidades, a falta de farmácias obriga o consumidor a se deslocar por, pelo menos, 15 minutos de carro. Nos EUA, existe 1,2 farmácia por 10 mil habitantes. No Brasil, são 4,4 farmácias para o mesmo número de pessoas.

Em 2024, 17% do total de farmácias foram fechadas no país. Entre as razões estão a tendência de concentração de pontos de venda em poucas redes, farmácias independentes migrando para grandes redes e pressão dos canais digitais.

Segundo a Close-Up, a desertificação está fortemente ligada aos pagadores, que influenciam o consumo por meio de modelos de reembolso. Diante disso, redes como CVS e Walgreens avaliam a manutenção das lojas com base na rentabilidade, e regiões menos lucrativas deixam de ser atrativas, resultando no fechamento de farmácias. Esse movimento, somado à expansão das plataformas de e-commerce, tem acelerado a desertificação no país.

Quais são as projeções até 2027?

Até agora, o mercado varejista farmacêutico cresceu dois dígitos, cenário que não se repetirá nos próximos anos. As projeções da Close-up indicam crescimento de 8,6% e 8,5% nos próximos dois anos respectivamente, considerando os descontos praticados ao consumidor.

Mesmo assim, o varejo farmacêutico ainda está entre os mercados mais promissores. Basta olharmos para o crescimento geral do varejo, que encerrou 2024 crescendo apenas 4,7% em relação ao ano anterior, segundo dados da Pesquisa Mensal do Comércio, do IBGE.

Os medicamentos de prescrição continuarão puxando o crescimento do mercado – 57% de participação em 2027 –, seguidos dos não medicamentos (29%) e dos MIPs (14%). Por isso, a melhor escolha continua sendo ampliar o mix de medicamentos.

No mercado de prescrição, os medicamentos de marca dominarão o cenário, com 60% de participação. Em seguida, vêm os genéricos, 22%, e os exclusivos/referência com 13% de participação.

Esses números mostram que o Farma segue na frente. Excelente notícia!

Fonte: https://revistadafarmacia.com.br/destaques/para-onde-caminha-o-mercado-farmaceutico/

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