A aposta no modelo de negócio de dark pharmacy é cada vez mais explorada por healthtechs. O movimento de compras online no varejo farmacêutico acelerou após a pandemia de Covid-19. E a ideia por trás dessa estratégia é que o setor passe a atuar de forma 100% digital, apenas com centros de distribuição de medicamentos, visando à redução de custos. As informações são do portal Futuro da Saúde.
A legislação ainda exige que empresas com vendas remotas tenham ao menos uma loja física. Entretanto, em fevereiro do ano passado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) instituiu um grupo de trabalho para discutir e revisar a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 44/2009. A medida questiona as regras de funcionamento dos e-commerces e a regulamentação da dark pharmacy.
“Mais de 145 entidades ligadas não só ao setor de saúde estão debatendo o assunto, e veremos se a Anvisa vai regulamentar como fruto desse debate e de que forma será feito. O Conselho não é contra a tecnologia, mas temos que ter cuidado e avaliar como ela pode ser utilizada”, avalia o diretor secretário geral do Conselho Federal de Farmácia (CFF) e membro do grupo de trabalho, Gustavo Pires.
O grupo é organizado pela Gerência de Inspeção e Fiscalização de Medicamentos e Insumos Farmacêuticos (GIMED) da Anvisa. Além disso, agrega o CFF, a Abrafarma, a Abcomm, a Interfarma e a Saúde Digital Brasil.
Dark pharmacy acompanha outras tendências
Além da dark pharmacy, outro planejamento das healthtechs com foco no mercado farmacêutico é a prescrição eletrônica para medicamentos, impulsionada com a pandemia e a telemedicina. Vale lembrar que a venda online de medicamentos controlados era proibida até 2020, liberada pela Anvisa no período de emergência e prorrogada até 2023.
“A resolução foi criada na pandemia e foi renovada, mas gostaríamos que virasse uma instrução normativa. Isso permitiria destravar modelos como a Pill, que cumprem exatamente o que boas práticas farmacêuticas exigem e trazem inovações de modelos de negócios positivos”, defende o cofundador da Pill Farmácia Digital, dark pharmacy que atua desde novembro de 2021 em São Paulo, Tom Bergstein.
Já Pires, do CFF, dá ênfase à possibilidade de prescrição eletrônica para as receitas amarela e azul. “As receitas azuis de medicamentos controlados já passaram de ter validade regional para nacional. Mesmo sendo físico, tem validade em todo o País. A Anvisa agora discute ter esse formulário em forma digital. Com essa possibilidade de alteração e previsão, quem sabe no futuro próximo seja uma barreira a ser quebrada”, afirma.
Dark pharmacy funciona como uma farmácia convencional
“Somos uma farmácia 100% comum da porta para dentro. A gente opera com estoque próprio, relação com principais indústrias e distribuidoras do País, equipe farmacêutica, assim como uma farmácia convencional. A nossa diferença é como nos relacionamos com o cliente”, diz Bergstein, da Pill, que até tem uma unidade física, mas é focada no market place e nos canais de atendimento.
A empresa se aproxima dos compradores através de programa de compra recorrente, na qual os farmacêuticos entram em contato com os clientes para acompanhamento da receita, se houve atualização médica ou em caso de dúvidas.
Ele ainda explica que um terço da equipe é voltada à operação farmacêutica, sendo pessoas aptas a fazer dispensação, recebimento de mercadoria e atendimento ao cliente.
Outras empresas também se destacam com a criação de suas próprias dark pharmacies. Por exemplo, a Mevo Saúde, que implantou o modelo e já conta com mais de 400 unidades hospitalares como clientes. Cada paciente que recebe uma receita digital da companhia pode adquirir os medicamentos pela plataforma. A entrega rápida, a exclusividade aos receptores da receita e a redução da automedicação são alguns diferenciais.
Marketplaces também são foco da pauta
A falta de controle sobre a dispensação de medicamentos por essas ferramentas, que também não possui uma legislação específica, é um ponto em discussão pelo grupo de trabalho da Anvisa.
“Mesmo medicamentos isentos de prescrição não são isentos de riscos e não podem ser tratados como uma mercadoria qualquer. Temos que ter cuidado quando a gente engloba a venda de qualquer tipo de produto misturado com medicamentos. Nesse Grupo de Trabalho discutimos a possibilidade de controle e se é possível regulamentar um marketplace a nível de empresas de saúde”, explica Pires.
O papel do farmacêutico se passa pela orientação do público sobre eficácia, interação medicamentosa e possíveis efeitos colaterais, além de incluir a discussão sobre vendas online. O Conselho afirma participação nos debates para que o desenvolvimento tecnológico e as oportunidades de negócios estejam alinhadas.
“Os farmacêuticos estão mais preparados às novas modalidades e também mais atentos. Uma venda online pode ser facilitada do ponto de vista de acesso, mas também pode ser mais complexa nas falsificações de prescrição. Então, ele precisa estar mais atento a isso”, finaliza.
Fonte: https://panoramafarmaceutico.com.br/dark-pharmacy-e-aposta-em-healthtechs/