Com o aumento do consumo de medicamentos em domicílios, cresce também a geração de resíduos como cartelas vazias (blísteres) que contêm plástico e alumínio, materiais que podem ser reciclados. No entanto, a maioria desses resíduos acaba sendo descartada de forma inadequada, causando danos ambientais e desperdiçando materiais valiosos. Cartelas vazias de medicamentos não são adequadamente segregadas e descartadas pela maioria dos consumidores. Em muitos casos, acabam em aterros sanitários ou são misturadas com outros recicláveis, dificultando seu reaproveitamento. A ausência de uma política abrangente de coleta desses materiais agrava esse problema.
Agosto de 2024 – A Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – Seção São Paulo (ABES-SP), por meio de sua Câmara Técnica de Resíduos Sólidos, abriu consulta pública sobre a reciclagem de cartelas vazias de medicamentos pós-consumo. O objetivo é incentivar a coleta seletiva e reciclagem desses resíduos, reduzindo o envio de materiais recicláveis a aterros e promovendo a reutilização de plástico e alumínio. A iniciativa reforça a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS – Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010), que destaca a responsabilidade compartilhada no ciclo de vida dos produtos, com foco na coleta seletiva e sustentabilidade no descarte de medicamentos.
O que são blísteres e como são produzidos?
Blísteres, ou cartelas de comprimidos, são embalagens de medicamentos projetadas para armazenar comprimidos e líquidos em frascos individuais. Essas embalagens são compostas por duas partes principais: um filme de material plástico e uma folha de alumínio laminado.
O filme plástico, geralmente feito de PVC/PVDC ou Aclar, possui bolhas moldadas para acomodar os comprimidos e é protegido contra oxigênio, umidade e luz. A folha de alumínio, que cobre e sela o filme plástico, garante a vedação completa dos comprimidos, preservando suas condições até o uso. Este alumínio é conhecido por sua resistência à corrosão, estabilidade e capacidade de ser codificado e impresso, e, juntamente com o PVC, impede a passagem de oxigênio e umidade, mantendo a integridade do medicamento.
Todo o processo produtivo de uma cartela é realizado num complexo de máquinas automatizadas especiais, sem contato humano, para não haver qualquer contaminação. Todo sistema de formação do filme de PVC, selagem e corte do blíster possui um conceito único, porém com uma grande gama de máquinas, que por sua vez impõe diversas tecnologias e velocidades de trabalho.
De acordo com Roseane Maria Garcia Lopes de Souza, Engenheira Sanitarista e Ambiental, atual diretora da ABES-SP e coordenadora das Câmaras Técnicas de Resíduos Sólidos e Saúde Pública, a consulta pública tem como objetivo principal reunir ideias e sugestões para aprimorar a logística reversa e a reciclagem das cartelas vazias de medicamentos. A intenção é utilizar essas contribuições para desenvolver políticas públicas mais eficazes e adequadas.
“A consulta pública sobre a coleta de cartelas vazias de medicamentos tem como objetivo aprimorar a logística reversa e a reciclagem desses resíduos. Queremos coletar ideias e sugestões para desenvolver políticas públicas mais eficazes, promovendo a sustentabilidade e gerando valor socioeconômico, enquanto contribuímos para uma sociedade mais inclusiva e sustentável,” informa Roseane.
Reciclagem de cartelas vazias: benefícios Ambientais e Sociais
A reciclagem de cartelas vazias de medicamentos é fundamental para reduzir a contaminação ambiental e promover a reutilização de plástico e alumínio. Ao serem reciclados, esses materiais retornam à cadeia produtiva, diminuindo a necessidade de novos recursos naturais e reduzindo o volume de resíduos em aterros sanitários. Este processo não apenas contribui para a preservação ambiental, mas também tem impacto positivo na economia e na inclusão social.
A prática pode gerar empregos e melhorar as condições de trabalho, especialmente se incluir cooperativas de catadores, oferecendo renda e oportunidades de inclusão social. A ABES-SP destaca a importância da participação ativa da sociedade para tornar o processo mais inclusivo e eficaz, promovendo também a conscientização ambiental. Entre as propostas em estudo e prática, a troca de cartelas vazias já estão sendo convertidas por itens, como cadeiras de rodas ou cama hospitalar, ampliando o impacto social da reciclagem.
A Assistência à Reabilitação e Bem-Estar de Convalescentes (Arbec) é um exemplo notável de impacto social através da reciclagem. Fundada em 2011 por Gilmar Santos, ex-motorista de ambulância de Maringá, e sua esposa Paula Alana Nunes da Silva, a Arbec se dedica a fornecer equipamentos de locomoção e apoio para pessoas em tratamento ou recuperação que não têm condições financeiras para adquiri-los. Ao longo de mais de 13 anos, a Arbec já atendeu cerca de 12 mil pessoas necessitadas.
A organização utiliza a reciclagem de cartelas vazias de medicamentos como uma estratégia inovadora para gerar recursos. Esses materiais recicláveis são convertidos em cadeiras de rodas, camas hospitalares e outros equipamentos essenciais. Com a colaboração da comunidade e um eficiente processo de separação e venda, a Arbec já emprestou mais de 5 mil equipamentos.
Cada 700 kg de cartelas recicladas possibilitam a compra de uma cadeira de rodas, e 3.000 kg permitem a aquisição de uma cama hospitalar.
A Arbec arrecada os materiais em 182 pontos de coleta e realiza todo o processo de forma voluntária, promovendo a sustentabilidade e a inclusão social. A Arbec está presente no Instagram ou por e-mail projetoarbec@gmail.com. Fonte: PFARMA.
Impactos Positivos
E do ESG (Ambiental): Reaproveitamento de materiais reciclados, redução da demanda por recursos naturais virgens, e diminuição do volume de resíduos e emissão de gases de efeito estufa. S do ESG (Social): Inclusão de cooperativas de catadores, promovendo a inclusão social. Econômico: Redução da necessidade de novos recursos naturais e aproveitamento dos materiais reciclados. Geração de empregos em cooperativas de catadores, oferecendo novas oportunidades de renda. Responsabilidade compartilhada, etapas do processo de reciclagem de cartelas vazias de medicamentos e suas vantagens
A ABES-SP ressalta que iniciativas de reciclagem de cartelas vazias de medicamentos são fundamentais para promover uma economia circular e sustentável no Brasil. A associação destaca a importância de expandir a logística reversa em municípios que ainda não possuem infraestrutura adequada, garantindo que as cartelas, classificadas como resíduos não perigosos, sejam tratadas de forma ambientalmente correta. A responsabilidade compartilhada é essencial para a criação de um sistema econômico mais circular e sustentável. Cada parte envolvida tem um papel específico:
Consumidores: Devem separar e armazenar as cartelas vazias em embalagens fechadas e secas, e entregá-las em pontos de coleta designados, assegurando que apenas cartelas vazias sejam depositadas. Pontos de Coleta: Precisam garantir o armazenamento seguro das cartelas, disponibilizar dispensadores acessíveis e registrar a quantidade e a data de cada coleta. Entidades de Coleta: Devem coordenar e realizar o transporte seguro das cartelas até a unidade de reciclagem. Unidades de Reciclagem: Precisam transformar os blísteres em matérias-primas utilizáveis, evitando contaminação química durante o processo. Na economia circular, a responsabilidade compartilhada é essencial para uma gestão de resíduos eficiente e sustentável, promovendo a economia de recursos. Este conceito fundamental envolve a colaboração de consumidores, empresas e governos. Trabalhando em conjunto, é possível reduzir o impacto ambiental e fomentar a reutilização de materiais.
As vantagens do processo de reciclagem são inúmeras, entra elas: o processo é inteiramente sustentável, não produz efluentes ou resíduos perigosos e reaproveita 100% do material reciclado. Isso elimina a necessidade de descarte em aterros e diminui a extração de novos recursos naturais, favorecendo a preservação ambiental. As etapas são:
Classificação e Separação: As cartelas são inicialmente separadas e classificadas para o tratamento adequado. Moagem: O material é triturado para remover marcas e informações sensíveis, garantindo a proteção de dados e a confidencialidade da marca. Separação de Componentes: Em um processo ecologicamente correto, o PVC e o alumínio são separados sem a emissão de efluentes, evitando o uso de água ou produtos químicos. Reutilização: Ambos os materiais, PVC e alumínio, são reinseridos no ciclo de produção, sendo reaproveitados na indústria.
Serviço
A consulta pública é uma oportunidade para que empresas, organizações de saúde, consumidores e o setor acadêmico contribuam com soluções inovadoras que promovam a reciclagem e o reaproveitamento de materiais.
Consulta pública: Reciclagem de cartelas vazias de medicamentos pós-consumo Iniciativa: Câmara Técnica de Resíduos Sólidos – Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – Seção São Paulo (ABES-SP) Prazo: As contribuições devem ser enviadas até o dia 7 de outubro de 2024. Os interessados podem enviar sugestões e propostas para o e-mail camaras2@abes-sp.org.br.
O documento completo da ABES-SP, com as diretrizes e orientações pode ser baixado aqui:
Orientacoes-para-Reciclagem-de-Cartelas-Vazias-de-Medicamentos-blisters-pos-consumo_consulta-publica_1-1Baixar
Para mais informações, entre em contato com a ABES-SP:
E-mail: assessoria@abes-sp.org.br | Telefone: (11) 3814-1872
Site: https://www.abes-sp.org.br/camaras-tecnicas/residuos-solidos/