A entidade atenta para problemas crônicos do sistema de saúde e cortes no Farmácia Popular
O Conselho Federal de Farmácia (CFF) defendeu a ampliação dos serviços farmacêuticos em carta aberta enviada aos candidatos à Presidência da República. O texto alerta para a necessidade de o futuro governo assumir o compromisso de trabalhar em prol de mais acesso a medicamentos e uma adesão consciente aos tratamentos.
A entidade atenta para problemas crônicos do sistema de saúde, incluindo a redução do público atendido e ameaças de cortes no orçamento do Farmácia Popular; baixas coberturas vacinais; medicamentos no centro das despesas com judicialização; desabastecimento; taxas de não adesão a tratamentos de até 62,9%; índice de até 24% de internações por problemas relacionados ao uso de medicamentos nos serviços de emergência (sendo 70% dos casos, evitáveis); precarização dos serviços de diagnóstico laboratorial que estão sem reajuste de tabela há quase 30 anos; déficit e baixa remuneração de farmacêuticos.
Serviços farmacêuticos no Farmácia Popular
Uma das propostas defendidas pelo CFF é a inserção do consultório e dos serviços farmacêuticos na rede pública e nos estabelecimentos privados conveniados ou parceiros, como lojas vinculadas ao Farmácia Popular. O Programa distribui medicamentos para pessoas com diabetes, mas, conforme dados publicados pelo Ministério da Saúde, metade dos pacientes que têm a doença não aderem ao tratamento. “Ou seja, não basta garantir a consulta e distribuir os medicamentos. É preciso acompanhar o uso”, alerta o presidente do CFF, Walter Jorge João, para quem a força de trabalho da categoria é subutilizada.
O documento avalia também os desafios que impactam a saúde como um todo. A proliferação dos cursos na modalidade EaD em praticamente todas as 14 profissões da saúde, é um deles. O número dessas vagas na área passou de 527,5 mil para 1,7 milhão em quatro anos, a partir de 2017. Somente na farmácia já são 247,3 mil. No documento, o CFF pede o banimento da modalidade na graduação em saúde sob pena de um apagão de mão de obra qualificada, tanto em relação ao aprendizado teórico quanto no que diz respeito ao desenvolvimento de habilidades e competências, possível apenas por meio das atividades práticas.
Outra ameaça é a da venda de Medicamentos Isentos de Prescrição (MIPs) em supermercados e similares, fora das farmácias, sem a supervisão e orientação técnica do farmacêutico. Medicamentos respondem por quase um terço das intoxicações no País. Pesquisa feita na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS) aponta que, atualmente, mesmo com as restrições na comercialização, o SUS já gasta R$ 60 bilhões ao ano no tratamento de problemas de saúde causados por medicamentos.
A banalização do acesso, com a venda de MIPs em supermercados no Brasil entre 1993 e 1995, coincidiu com o aumento de mais 23% nos casos de intoxicação. Em período similar, entre 2007 e 2009, quando a venda voltou a ser feita exclusivamente nas farmácias, houve queda de 14% nos casos. “Além do enorme dano para a saúde das pessoas, uma eventual liberação poderá causar desequilíbrio das contas públicas”, reforça João.
Piso salarial dos farmacêuticos
A instituição de um piso salarial para os farmacêuticos, e da carreira única para os profissionais da saúde é outro ponto de pauta do documento do conselho que congrega mais de 280 mil farmacêuticos em atividade no País. Esses profissionais estão distribuídos entre dez grandes linhas de atuação e em 136 especialidades. “Nosso propósito é fazer com que o próximo presidente compreenda que nossa categoria compõe uma enorme força de trabalho, disposta e com enorme capacidade para contribuir para uma assistência à saúde com mais acesso e qualidade.”